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domingo, 31 de outubro de 2010

Morta viva

Marina não tinha nada. Não tinha mãe, nem pai. Não tinha casa própria, e nem um bom emprego. Não tinha amigos, não tinha bons CDs, não tinha um cabelo bonito, não tinha namorado. Marina não tinha fé, não tinha pensamentos positivos, não tinha felicidade. Andava todos os dias as 6 da manhã pela praia. O barulho das ondas a fazia sentir um pouco menos morta. Voltava pra casa e ficava na companhia da velha TV preto e branco. As vozes desconhecidas da TV a faziam sentir um pouco menos sozinha, mas não mais feliz. Já não era monotonia. Já não era solidão. Era saudade. Saudade ela não sabia de que, não sabia de quem. Saudade talvez de se sentir bem, de se sentir amada, útil. Saudade de ser Marina.
Marina cortou e pintou os cabelos. Marina fez as unhas. Conseguiu um emprego numa loja e conheceu um bom partido que trabalhava numa farmácia, perto de onde ela comprara sua casa própria, depois de muito juntar dinheiro. Marina comprou Chico Buarque e Cartola; Elis Regina e Caetano; Noel Rosa e Maria Rita. Marina se encheu de positivismo e conquistou tantos amigos que os dedos dos pés e mãos não eram suficientes para contabilizar todos eles. Marina deixara de andar pela praia, agora ela corria. Marina trocou a TV, se bem que agora nem precisava tanto de suas vozes longínquas, uma vez que ligava sempre pro seu namorado, pros seus amigos, pra sua cabelereira, quando se sentia sozinha.
Marina passou a ter tudo. Pelo menos era o que ela achava. Mas mesmo assim, o velho vazio ainda se fazia presente. Marina tentava esconder com sua vida aparentemente perfeita a falta de algo que ela não sabia o que era, a saudade de alguém que ela não conhecia, de um amor que ela nunca tinha provado igual. Marina casou-se, teve filhos. Achou que os filhos preenchessem o espaço infindável que ela tinha dentro de si. Pensamento vão. Os filhos somente amenizaram por um tempo. Depois eles cresceram, foram pro exterior. Seu marido faleceu. Seus amigos sumiram. Sua cabelereira foi embora da cidade. E sua dor na coluna não a deixava mais correr pela praia, nem ao menos andar. Marina já não tinha mais idade para trabalhar e não gostava mais de MPB. Alias, Marina não gostava de mais nada. Nem a TV a fazia se sentir menos infeliz. Marina vivera uma vida de mentiras. Porque infelizmente, nem no seu leito de morte, ninguém nunca havia pronunciado para ela uma única palavra, aquela que  mudaria toda a sua vida: Jesus.
A verdade não foi apresentada a ela. Ela não sentiu o verdadeiro amor, a felicidade plena. Marina vivera morta, mas não se deu conta disso. Ela não sabia que uma vida vivida sem Deus é um cemitério eterno.

Um comentário:

  1. Uau, que incrível seu texto. Parabéns!
    Obrigada pelo comentário no meu blog.
    Ótimo feriado,
    narradorapersonagem.blogspot.com

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